quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

A mulher que jogava paciência.



Ao dobrar a esquina, nas madrugadas de farra, nem os faróis do carro ofuscavam a claridade que vinha da janela do seu quarto, provavelmente lá estava ela , olhar fixo na tela do monitor.
- Eu vejo você chegar toda madrugada, e quando vejo a luz do teu carro na minha janela, penso ’’ já é tarde. ’’, me disse ela uma vez.
É tão bom, ver você chegar, não sei por que,nunca pensei nisso,mas sinto um alivio de mãe quando você dobra a esquina ,parece que você evita chegar em casa , evita alguma coisa , prefere arriscar nas ruas, nas madrugadas , prefere os perigos da noite , a encarar o seu lar..
Sempre deixei a pessoas falarem o que pensam, nunca fui de achar as pessoas metidas ou indiscretas, acho natural, principalmente quando vem de um olhar gordo e meigo como o dela.
Despedi-me sorrindo, a noite já vinha chegando, o pôr-do-sol é lindo,mas realidades, e pés no chão são melancólicos, triste, infinitamente dor.
Me fui as madrugadas,imaginei seus lindos olhos azuis me seguindo ,até desaparecer em alguma esquina,.
Sempre tinha alguém à minha espera, alguma cama macia e cheirosa ou um quarto frio e monótono de motel, que nem mesmo a companhia ,por mais especial e excitante que fosse ,tirava o ar de impessoalidade daqueles ambientes.
Fiquei pensando nela em suas palavras, que não paravam de ecoar naquele quarto nem tão monótono,nem tão frio,nem desagradável à companhia.
Olhei para o lado, um par de olhos verdes ,grandes e brilhantes me fitavam, um sorriso se fez em seus lábios enormes....seus seios se apertaram contra meu peito ,braços se enlaçam e mãos procuraram prazer em formas e partes que a roupa esconde todo dia.
Ouvi barulho de automóveis, abri os olhos, olhei o relógio: 11h05min ,olhei para o lado, ela dormia serenamente,nem parecia respirar, abracei-a ela se acomodou nos meus braços ,fiquei acordado, pensando, pensei...será que ela dormiu sem ver a claridade dos faróis do meu carro?,o que será que ela pensou.?..o que se passava na mente dela,quando sentia o alívio , ou a felicidade de poder me dizer o que sentia...ou achava?
Eu nunca mais dobrei aquela esquina, nunca mais voltei para aquela casa,nunca mais vi a claridade em sua janela,mas ainda sinto, aquela dor, em cada clarão de janela ,nas ruas de madrugada.