sábado, 27 de novembro de 2010

Dia de Chuva, Luzes Vermelhas.


O limpador do para-brisa do carro parecia borrar de vermelho o vidro diante dos olhos dela, aquela sinaleira parecia eterna, o ruído do vai e vem do limpador irritava mas a chuva não dava trégua, não tinha como desligar aquele treco e nem calar o locutor da FM que falava sem parar sobre o trânsito,_Porra!!!, pensou ela, eu estou no trânsito eu sei como esta, porque preciso e um babaca em dizendo estar ruim e vai piorar, e por mais que mudasse de estação era sempre mais um otário berrando e amaldiçoando o trânsito e aquela dia chuvoso.
Finalmente o sinal abre, ela então esquece o rádio, olha para os lados e segue em frente.
Todas as luzes são vermelhas e embaralham a visão nos dias chuvosos, raramente ela via uma luz verde, laranja, azul.
Brancas ou amareladas eram apenas as da iluminação da rua; ela pensa;_Será que Van Gogh, Matisse e tantos outros enxergavam as coisas assim, pela vidraça nos dias de chuva ?, Matisse lembrava o quadro escorado na parede do quarto no apartamento dela, onde Jonas, seu novo namorado estava.Ela o deixara dormindo enquanto procurava uma padaria, um mercado aberto para comprar pão, café e acordá-lo com um beijo e vê-lo sorrir....
A imagem dele na cama todo esparramado lhe faz sorrir sozinha, aquele quarto quase vazio, uma cama no chão, bem no centro do quarto, o quadro escorado na parede, o som de trovoadas, relâmpagos e o seu novo amor dormindo, isso fazia seu coração feliz e dava uma sensação de paz interior que ela nunca mais havia experimentado na vida.Era dia, mas aquela escuridão dava a sensação de ser madrugada e ela só se da conta quando já esta na fila de carros tentando estacionar no subsolo do shopping, e mais luzes vermelhas a sua frente e aquele locutor ainda bradava no rádio do carro.
Pensando nele, tudo parecia silencio, tudo sumia diante de seus olhos, ao voltar a si, prestar atenção nas coisa, tudo parecia um inferno de luzes e sons, vozes estranhas, buzinas, motores e ela preferia não estar ali.
Logo a chuva desaparece do vidro do carro , o sensor de chuva desliga aquele maldito limpador, as luzes do estacionamento parecem clarear ,trazer sol ao dia chuvoso, mas os rastros de água deixados pelos carros não deixava ela esquecer que lá fora ainda chovia, o locutor da FM logo se cala e a rádio toca uma canção antiga, ela presta atenção mas não lembra de ter ouvido antes.A fila dos carros parece não andar, mas há vagas ou eles nem a deixariam entrar.Ela se lembra do iPod na bolsa, pluga no som do carro e a primeira música a deixa mais tranquila,era qualquer coisa que alguém baixou pensando em lhe agradar um dia, mas logo sua mente parecia um slideshow em alta velocidade, o quarto , o quadro, Jonas, trânsito, sair, voltar, sorrisos, vinho e aquela musica que ela nunca consegui deletar do iPod....uma ansiedade misturada com saudades de alguma coisa que ela havia esquecido, ( R.E.M, Everybody Hurts), aquele não era o dia para ter lembranças e muito menos saudades, mas alguma coisa a impedia de deletar, desligar aquele mp3 player.Ela estaciona, se recosta no banco, o olhar perdido, ela lembra porque veio ao shopping e imagina o novo namorado andando nu pelo quarto, tentando encontrar suas roupas que ela havia escondido e ao mesmo tempo, passa em sua mente todo um passado feliz que deveria ter sido deletado, esquecido, mas parece que não foi, não adiantou arrumar outro amor...alguém ainda vivia nos porões do seu subconciente e bem vivo pela reação que a música lhe causara.
A musica parece interminável, seus olhos se enchem de lágrimas, ela pega o celular, liga para o novo, quase novo namorado e diz onde estão as roupas e pede que ele saia e deixe a porta sem trancar mesmo e que ela avisará o porteiro, ela diz que teve que sair e não vai voltar hoje e desliga. Apesar de ter sido acordado pelo telefone, o cara entendeu a situação, o fora, mas não esquenta a cabeça, fica olhando pelo quarto, lembrou detalhes da noite passada, levanta, encontra suas roupas deixadas no sofá da sala, veste e sai porta a fora.Passa por corredores, elevadores e no saguão, ele sorri para o porteiro que olha para ele com ar de ''mais um que ela dá o fora''.Ele olha para a rua, encolhe o corpo e sai caminhando cabisbaixo, a chuva parecia aumentar.
No estacionamento, a musica, ela colocou no repeat e decidiu deixar o choro vir a tona,ela podia jurar que sentia o perfume dele, ouvia a voz dele misturada com freadas bruscas dos automóveis ecoando pelo estacionamento.
Tem dor que nunca passa, tem chance que nunca aparecem duas vezes, na próxima vez ela daria uma chance ao que aparecesse ou voltasse a encontrar, pensou; ou a dor acabaria com a sua sanidade.
Há tempo para tudo, tempo para amar e tempo para esquecer, e como dizia a letra da música, '' você não esta sozinho, todo mundo se machuca as vezes.
Apesar de lotado, o estacionamento parecia um grande e silencioso deserto, ela apenas ouvia a canção e soluçava.

Att:Luka.San

''Bem, todo mundo se machuca

Às vezes, todo mundo chora
E todo mundo se machuca, às vezes
Mas todo mundo se machuca, às vezes
Então aguente firme''
By R.E.M, da canção, ''Everybody Hurts''